A ocorrência de larvas que se alimentam dos tecidos do couro cabeludo é comum. Isso pode acontecer quando um ferimento não é tratado corretamente e, por algum descuido, uma mosca pousa e deposita mais de 200 ovos, resultando numa Miíase, que pode afetar animais e humanos, principalmente crianças do sexo feminino cuja ferida está escondida entre os cabelos.
A infestação das larvas pode ocorrer em menos de 24h e as consequências para a saúde incluem infecção, mal cheiro, pus e até hemorragias graves. Há quem pense que essa condição é somente de quem sobrevive em más condições de higiene e saneamento básico, porém a médica pediatra Josane Paes, do Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, ressalta que qualquer pessoa pode ser escolhida por uma mosca para depositar os seus ovos.
“Os sintomas podem surgir em qualquer lugar do corpo humano, incluindo olhos, ouvidos, boca ou nariz. Tudo depende do local que a mosca pousar. O tratamento é feito através da remoção das larvas da ferida por catação e deve ser feito o quanto antes para evitar a progressão da doença, já que as larvas destroem rapidamente os tecidos humanos. A região é esterilizada e recorremos ao antibiótico para tratar a infecção”, explicou a médica.
A dona de casa Luciene Marques da Silva, de 31 anos, confessa que nunca ouviu falar que algo assim poderia acontecer, tampouco com a sua filha de seis anos. Ela disse que tem o hábito de lavar as longas madeixas de sua filha, com shampoo e condicionador, no mínimo duas vezes na semana. Certo dia, quando a penteava, observou uma bolha, que posteriormente estourou e deixou um orifício.
“A levei duas vezes na UPA [Unidade de Pronto Atendimento], onde foi medicada e voltamos para casa. Orientaram lavar bem com um sabonete antibacteriano, então surgiu a febre. Depois de um tempo, vi que tinha algo se mexendo. Voltamos para a UPA e, quando examinaram, coletaram o sangue, a colocaram no soro e solicitaram a transferência para o HGE. Foi quando eu soube o que estava acontecendo e fiquei surpresa”, recordou a mãe, que tem outros três filhos.
A criança precisou de intervenção cirúrgica para remover todas as larvas e parte pequena do cabelo ao redor do ferimento precisou ser retirado. O internamento teve início no último dia 28 e nesta terça-feira (2) foi dada alta médica mediante recomendações acerca do curativo e dos cuidados necessários para uma boa higiene. Luciene compartilha que o atendimento dado pelo HGE superou as suas expectativas.
“Recebemos muita atenção de toda a equipe da Pediatria, desde a observação até a enfermaria. Eu nunca soube da existência desse risco, não tinha noção que algo assim poderia acontecer. A minha filha gosta muito de brincar, todos os dias ela toma banho, eu mesma penteio o cabelo dela e jamais imaginei tamanho susto. Fica a experiência e o aprendizado para que não se repita”, afirmou a dona de casa. “E mamães, atenção redobrada, porque não é brincadeira, só eu sei a angústia que passei”, completou.
A pediatra acrescenta, ainda, que no tratamento não é recomendado o uso de azeite, álcool, creolina e outras substâncias aplicadas diretamente na pele, pois, além de não resolverem, incomodam as larvas fazendo com que elas tentem entrar ainda mais fundo na ferida. Como prevenção, evitar a penetração das larvas, protegendo principalmente feridas abertas do contato com moscas.
“O HGE conta com uma equipe qualificada de profissionais especializados no atendimento pediátrico, 24h. Mas, orientamos que a preferência pelo primeiro atendimento em um caso desses, como relatado pela mãe da criança, seja iniciado na UPA, onde existe capacidade técnica para o diagnóstico e realização dos encaminhamentos necessários. Toda a rede de saúde do Governo de Alagoas, liderada pela Sesau, está trabalhando para desenvolver o Estado com coração para cuidar das pessoas”, acrescentou o diretor geral, Fernando Melro.