Aquele que se declara em público. Essa é a tradução de professus, palavra do latim originária do que hoje conhecemos por professor, uma das profissões mais antigas e de suma importância para todas as outras. Na Polícia Militar de Alagoas (PM-AL), a figura do profissional de ensino está presente durante toda a vida castrense, desde o curso de formação no qual o policial é formado para a carreira militar, aos cursos de aperfeiçoamento, seja ele operacional, técnico ou de ensino continuado. E para homenagear esses brilhantes mestres, no dia 15 de outubro é comemorado o Dia do Professor.
Na PM-AL, tradicionalmente, o professor é também chamado por outro nome: instrutor. Como o próprio nome sugere, eles são os responsáveis por instruir os discentes durante toda a jornada pedagógica, preparando-os para servirem a sociedade nas diversas funções que eles possam executar.
O comandante-geral da Corporação, coronel Paulo Amorim, é o primeiro a incentivar a formação e o aperfeiçoamento de toda a tropa. “Um militar forjado é um policial mais preparado para proteger a nossa sociedade. Sem os nossos instrutores isso não seria possível. Esses homens e mulheres que se aprimoraram nas suas áreas de ensino, com muito estudo e dedicação, hoje são multiplicadores desses conhecimentos. Há tempos, precisávamos trazer pessoas de fora para vir ministrar aulas aqui em Alagoas, mas hoje, nossos militares são requisitados para irem a outros estados para dar cursos e palestras. Isso é motivo de orgulho para todos nós”, destacou o comandante.
O início na Polícia Militar
A PM-AL, por meio da sua Diretoria de Ensino, Instrução e Pesquisa (Deip), gere duas unidades-escolas que atuam na preparação dos novos policiais militares, a Academia de Polícia Militar Senador Arnon de Mello (APMSAM), a chamada escola de comandantes, e o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP). São nestas unidades onde atualmente todo policial militar de Alagoas inicia sua jornada na caserna, seja ele no oficialato ou na carreira de praça.
Quando o assunto é formação, uma oficial que já formou centenas de oficiais e praças da PM-AL é a major Joyce Bezerra, chefe de Ensino da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP). Para ela, ser instrutora é uma realização, e por se tratar de um ambiente militar, há diversos benefícios.
“A disciplina e organização militares tornam o ato de ensinar mais tranquilo para o instrutor, pois não temos de lidar com ausências e indisciplina dos alunos, fazendo com que o ambiente em sala de aula seja focado no respeito e no senso de responsabilidade com o aprendizado”, disse.
Já quando o contato é com os cadetes e alunos-soldados vindos do mundo civil, a oficial superior destaca o quanto é gratificante para ela, que já trabalhou como professora em cursos preparatórios para concurso público. “É como você ver uma pequena semente brotando e dando frutos após formados! Guardo ternas recordações de alunos meus os quais hoje brilham em suas funções na PM-AL”, enfatizou a major Joyce.
Além da área de formação, a chefe de ensino da SSP também foi instrutora de diversas outras modalidades. Para a oficial superior todo curso é marcante e tem suas peculiaridades. Uma turma que ela destacou foi a do Curso de Habilitação de Oficiais (CHO) de 2023. “Fui instrutora de metodologia científica e realmente foi um processo de caminhar de mãos dadas com plantões e acompanhamento para tirar dúvidas. Foi muito bom ver o resultado e o esforço de pessoas com quem inclusive já havia trabalhado juntos em locais por onde passei. Os trabalhos ficaram maravilhosos e criamos um vínculo de carinho e amizade”, afirmou.
Colégio Tiradentes
Além das unidades de ensino voltadas à formação militar, a PM-AL conta com o Colégio Tiradentes (CPM), que possui duas unidades: capital, em Maceió, e interior, em Arapiraca. As escolas são destaques no ensino público estadual, sendo campeãs de diversas medalhas em olimpíadas escolares em nível nacional.
No colégio Tiradentes, policiais militares com formação nas áreas de licenciatura atuam como professores. Um deles é o cabo Werik Santos, docente da disciplina de matemática na unidade do interior, em Arapiraca. Para ele, ensinar em um colégio militar envolve uma abordagem diferente das escolas convencionais, pois além de focar no conhecimento acadêmico dos alunos e no repasse do conteúdo programático, também é trabalhado a questão dos valores próprios do militarismo, como a disciplina, além do incentivo à liderança, ao respeito e ao trabalho em equipe.
“Nosso objetivo é não só preparar estudantes competentes, mas também cidadãos conscientes, responsáveis e com valores que nós militares também trazemos na nossa formação. A experiência de trabalhar no CPM é desafiadora, pois os alunos se inspiram muito na figura do professor militar. Eles veem em nós alguém que querem ser quando se formarem”, comentou.
O cabo Werik também afirma que mesmo se tratando de um colégio renomado, com diversas medalhas e concursos em níveis nacional e internacional, também existem alunos com dificuldades e que merecem a atenção do corpo docente.
“Isso também é um desafio diário do professor. Por mais que o nosso colégio seja seletivo (os alunos passam por uma seleção para se matricularem), várias dificuldades ainda são encontradas. Nós recebemos alunos a partir do 6° ano e alguns deles entram com uma base mais carente, requerendo uma atenção pedagógica especial para não ficarem para trás”, explicou.
Aula de inclusão
Se ser professor já é um nobre ofício, ser instrutor de algo que traz maior acessibilidade e inclusão torna-se algo ainda mais especial. É o caso da sargento Janaína Cavalcanti, que ministra aula de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para o Curso de Formação de Praças (CFP). A disciplina faz parte da grade curricular de formação dos novos soldados da PM-AL, capacitando-os assim para melhor servir às pessoas com deficiência auditiva.
“Sinto-me honrada em ser professora dentro da Polícia Militar. Repassar o nosso conhecimento para futuros colegas de trabalho é muito gratificante. Ser instrutora e Libras chega a me emocionar. Quando esses antigos alunos, já no exercício de suas funções, retornam para dizer que conseguiriam se comunicar com uma pessoa com deficiência auditiva por conta das minhas aulas, não tenho palavras para descrever todo esse sentimento de gratidão”, expressou a militar.
A sargento Janaína relatou que se interessou pela Libras ainda como aluna do CFP, época em que surgiu o desejo de aprender mais sobre a língua de sinais. “Anos depois tive a oportunidade de fazer um curso e quando comecei a estudar, já projetei minha vontade de repassar para os novos soldados. Assim o fiz. Em 2020 ministrei minha primeira aula”, endossou.
Segundo a militar, coisas simples são fundamentais para a comunicação efetiva. Em suas aulas, ela tenta passar ao máximo toda informação necessária, desde os sinais mais básicos, como um ‘bom dia’, até os procedimentos em abordagens a pessoas surdas.
“Uma das coisas que eu sempre falo nas aulas é a importância para o policial militar estar preparado para atender todo e qualquer cidadão. Não temos como escolher quem será essa pessoa. Há pessoas com deficiência auditiva que também não sabem Libras, dificultando ainda mais, porém, nós devemos atendê-los da mesma forma. Precisamos do conhecimento e do discernimento na hora da ocorrência”, explicou.