A força do olhar jovem sobre o território alagoano ganha forma e cor na exposição Comunidade Escolar e Território, em cartaz no Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa). A mostra reúne 104 obras produzidas por estudantes da rede pública estadual, incluindo desenhos, pinturas e fotografias que traduzem, com sensibilidade e autenticidade, a vivência cotidiana de jovens espalhados por todo o estado, do Sertão ao Litoral.
A idealização da mostra é da curadora Luciana Luz Ferreira, a partir do material artístico apresentado no 7º Encontro Estudantil de Alagoas. “A ideia surgiu no 7º Encontro Estudantil. Ao analisar a diversidade e a beleza das obras, como curadora, achei que seria relevante sugerir aos organizadores uma exposição mais abrangente, contemplando, além dos estudantes e familiares, toda a sociedade alagoana”, disse.
Ao lado dos professores Willames de Santana Santos e Juliana Ferreira, Luciana coordena o Grupo de Pesquisa Histórica e Interdisciplinar Luiz Sávio de Almeida (G.Philsa), responsável pela articulação do projeto com a Secretaria de Estado da Educação. O grupo atua diretamente nas escolas da rede pública estadual com ações voltadas ao protagonismo estudantil, educação patrimonial e fomento à cultura, desenvolvendo projetos reconhecidos até mesmo em âmbito nacional.
“O objetivo principal é estimular esses meninos a sonhar; mostrar que através da arte é possível que eles sejam ouvidos e respeitados, independente de onde vivam, da cultura ou da sua condição física ou social. Sejam de Delmiro Gouveia, Porto Calvo ou Penedo, todos contribuem para a rica diversidade que constrói o nosso estado”, explica Luciana.
A exposição foi estruturada em quatro eixos temáticos (escola, natureza, costumes e crenças), respeitando o espaço físico do salão temporário do Misa, mas sem deixar nenhuma das 104 obras selecionadas de fora. Os trabalhos foram orientados por professores das unidades escolares, a partir do tema do Encontro Estudantil, Comunidade Escolar e Território: participação itinerante e compromisso social com equidade”.
“Todo o processo de criação é orientado pelos professores das unidades de ensino, sendo, estes, peças fundamentais para a lapidação do aluno artista para chegar no bom resultado da obra”, destaca a curadora.
Para a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, a exposição revela o que há de mais autêntico na produção artística alagoana. “Ver o talento desses jovens ocupando as paredes de um dos museus mais importantes do estado é emocionante. A arte é uma ferramenta poderosa de transformação, e quando colocamos esses estudantes como protagonistas de suas narrativas, criamos caminhos para uma cultura mais acessível, diversa e representativa. A exposição é uma verdadeira lição de pertencimento e de esperança”, falou a secretária.
A mostra também dialoga com temas essenciais como identidade, memória e preservação do patrimônio, estimulando o olhar crítico e consciente sobre o território alagoano. “O projeto é relevante, já que aborda a valorização do seu território como indispensável para o desenvolvimento das novas gerações, conhecendo, valorizando e preservando o patrimônio social, cultural e ambiental que é nosso como parte da nossa história de ontem, de hoje e de amanhã”, reforça Luciana Luz.
Para a supervisora do Museu da Imagem e do Som de Alagoas, Jinny Mikaelly, a realização da exposição no espaço reforça o papel do museu como instrumento de democratização cultural. “É uma grande satisfação ver o Misa sendo ocupado por estudantes da rede pública. Receber essa mostra nos enche de orgulho, porque ela coloca em destaque o olhar dos jovens sobre o território em que vivem e mostra que museu é, sim, lugar de escola, de comunidade, de diversidade”, disse ela.
A conexão entre arte, território e pertencimento é uma das metas da mostra, que busca elevar o protagonismo dos alunos, desenvolver a conscientização cultural, estimular a criatividade e fomentar a participação comunitária.
A repercussão entre os estudantes foi imediata e comovente. “Alegria, emoção e encantamento. Alguns que não estiveram na abertura da exposição conseguiram meu contato e mandam mensagens lindas de gratidão, emocionados”, relata Luciana.
Para o estudante Ismael Oliveira Vilar, autor da obra Sociedade, escola, formação e acessibilidade, da Escola Estadual Luiz Bastos, localizada no município de Canapi, participar da exposição foi uma experiência transformadora.
“Foi algo inexplicavelmente importante para mim de modo geral. Ver minha obra no Misa foi algo que jamais pensei que poderia acontecer algum dia”, contou.
Ismael também destacou o valor do tema central da mostra. “É importante lembrar que o tema Comunidade escolar e território nos faz perceber como o nosso estado é visto por nossos jovens, e que essa visão é algo excepcional que nos faz ver Alagoas muito além dos livros didáticos, pois retrata a história individual e uma visão única que cada um tem”, disse.
Para ele, a mostra vai além da estética e do reconhecimento artístico: “Espero que quem teve a oportunidade de apreciar esse evento e entender de fato o que ele representa para a construção da história do nosso estado, possa, do mesmo modo, ver o quão importante é o papel da arte na construção dessa carreira”, reforçou.
Com novos projetos já em desenvolvimento, como o Concurso de Desenho 2025, com o tema Povos Indígenas Alagoanos, o G.Philsa reafirma seu compromisso com a construção de uma educação mais humanizada, crítica e sensível.
“Como diz Gilberto Gil, ‘Cultura não é extraordinária, cultura é ordinária, é necessidade básica, tem que estar na cesta básica de todo mundo’, e para isso, estado e sociedade civil devem se engajar para garantir”, conclui Luciana.