Imagine, como último ato de solidariedade, poder salvar até oito vidas. É exatamente isso que acontece quando uma pessoa se declara doador de órgãos e concretiza este ato de amor. Para conscientizar a população, uma série de ações foi realizada este mês. pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), por meio da Central de Transplantes de Alagoas. E, nesta segunda-feira (27), Dia Nacional do Doador de Órgãos, balões foram soltos em frente ao Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió.
Apesar do Brasil, segundo o Ministério da Saúde, ocupar a segunda posição entre os países que mais realizam transplantes, atrás apenas dos Estados Unidos, continuamos, ainda, com milhares de brasileiros aguardando pela oportunidade de receber um transplante. Somente em Alagoas, 324 pessoas aguardam por córneas, 121 por rim, três por coração e uma por fígado. São 449 vidas aguardando a conscientização e o respeito ao desejo do doador.
“Pelas leis do Brasil, não temos como garantir efetivamente a vontade do doador. No entanto, observamos que, quando a família tem conhecimento do desejo de doar do parente com diagnóstico de morte encefálica, esse desejo é respeitado. Por isso, a informação, a conscientização e o diálogo são absolutamente fundamentais, essenciais e necessários”, pontuou a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos.
A assistente social do HGE, Ana Cláudia de Jesus, explica que a proposta para a doação de órgão só existe após a conclusão de todo o Protocolo de Morte Encefálica, que é realizado por uma equipe multidisciplinar e composto pela repetição de vários exames. Quando é identificado um potencial doador, uma equipe multidisciplinar, liderada pela Organização de Procura de Órgãos (OPO), realiza o acolhimento dos familiares para a definição da decisão.
“Quando há a doação, os órgãos são retirados por meio de procedimento cirúrgico que preserva o corpo do doador. Participam do momento vários profissionais, observados pela Central de Transplantes, que é ligada ao Sistema Nacional de Transplantes e também responsável pela fila de doadores no Estado. A doação pode ser de rim, fígado, coração, pâncreas, pulmão, córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical”, acrescentou Daniela Ramos.
Professor segue a vida após receber o transplante de fígado
O professor universitário aposentado José Milson de Melo Lopes, de 68 anos, participou do momento promovido no HGE. Casado, pai de seis filhos e feliz com cinco netos, ele conta que precisou de transplante de fígado aos 60 anos devido às consequências de uma cirrose hepática. Na verdade, aos 14 anos, ele já precisou retirar o baço por ter adquirido esquistossomose, mas, lamentavelmente, vacilou nos cuidados preventivos contra outras doenças.
“Eu não ia regularmente ao médico. Trabalhava muito, dava aula em várias faculdades. Também achava que não precisava ir ao médico, pois não sentia nada de ruim. Sendo que a minha esposa praticamente me obrigou a ir e, após a realização dos exames, fui informado que o meu fígado não estava legal, que precisava de um novo, de um transplante. Nessa hora, o meu mundo caiu”, recordou o patriarca.
Isso aconteceu no ano de 2013. Mediante esta notícia, José Milson decidiu ir à Recife e consultar outro especialista, que confirmou a necessidade do transplante e o inseriu na fila de espera por doação. Durante 11 meses, a ansiedade e um misto de outras emoções dominaram a vida dele. Naquela época, o transplante de fígado ainda não era feito em Alagoas, diferente de agora.
“Hoje eu estou ótimo! Ainda precisei desobstruir uma veia, devo seguir com alguns cuidados porque também não tenho o meu sistema imunológico muito fortalecido, mas ganhei a oportunidade de poder viver. E é por isso que aceitei o convite de participar desta ação, para que mais pessoas compreendam a importância de um transplante e o impacto positivo que pode ser alcançado em tantas vidas”, argumentou o pai de família.