Circula nas redes sociais um texto com a informação de que a União Europeia teria anunciado a substituição de vacinas contra a Covid-19 pelo uso da ivermectina. A mensagem é falsa. O conteúdo original sobre novas terapias em estudo para tratar pacientes, sem substituir a imunização, não cita o antiparasitário.
O texto é compartilhado desde setembro e já sofreu diversas alterações até viralizar. “Olha a notícia aí chegando bem quentinha da Europa: União Europeia substituirá vacinas por ivermectina. Boas notícias para quem não gosta da vacina covid-19. A partir de 20.10.2021, covid trial e proteção de vacinas para covid-19 serão cancelados todos na Europa”, afirma a mensagem.
O conteúdo em tom alarmista é falso. Na tentativa de passar credibilidade ao leitor, ele apresenta um link do site da Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, com uma suposta lista de novas terapias que substituiriam a vacina, onde incluiriam também a ivermectina. No entanto, o texto original, escrito em francês, não menciona esse medicamento. No topo do site, inclusive, a vacina é destacada como o melhor meio para o mundo retornar a uma vida normal. É possível conferir neste link uma versão em português.
Publicado em junho, o comunicado oficial trata de cinco tratamentos coadjuvantes contra a covid-19 e nenhum deles se relaciona com a ivermectina. De acordo com o documento, os medicamentos em estudo não pretendem substituir a vacinação. “A estratégia, centrada no tratamento de doentes com Covid-19, funciona em paralelo com a bem-sucedida Estratégia da UE para as Vacinas, através da qual foram autorizadas vacinas seguras e eficazes contra a COVID-19 para utilização na UE, a fim de prevenir e reduzir a transmissão de casos, bem como as taxas de hospitalização e as mortes causadas pela doença”, assegura o órgão da União Europeia.
Ao Portal G1, o porta-voz de saúde, segurança alimentar e transporte da Comissão Europeia, Stefan De Keersmaecker, explicou a iniciativa das pesquisas: “A estratégia de vacinação e os esforços em curso para garantir a vacinação dos cidadãos da UE são, portanto, totalmente compatíveis com o desenvolvimento da terapêutica. Precisamos de ambos – para prevenir doenças com vacinas e, ao mesmo tempo, garantir que podemos tratá-las com terapêutica”.
A mensagem compartilhada nas redes sociais também apresenta uma segunda afirmação falsa. O texto diz que “a ivermectina foi cientificamente reconhecida como uma droga eficaz na prevenção e tratamento de covid-19 por pesquisadores do Instituto Pasteur, França”.
O estudo citado, publicado na Revista EMBO Molecular Medicine, existe, mas foi realizado em hamsters. A pesquisa apontou que a ivermectina protegeu os animais de desenvolverem sintomas durante a infecção, mas não impediu a replicação do vírus no organismo. O Instituto Pasteur lembrou que os dados do estudo são pré-clínicos e ressaltou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou o uso do medicamento apenas em análises clínicas, enquanto não existe comprovação para o tratamento, apesar de já reconhecer que “o tratamento preventivo já está fora do escopo das diretrizes”.
Como apurou o site Aos Fatos, uma substância só é considerada eficaz contra uma doença após seguir uma metodologia científica rígida, com vários testes clínicos. Ou seja, o resultado em animais não necessariamente será alcançado em humanos. No site é possível conferir as etapas de estudos e em que momento a pesquisa aponta a eficácia do medicamento. A checagem também foi realizada pelo Estadão Verifica, AFP Checamos, Agência Lupa e Boatos.org.
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