Circula no WhatsApp uma mensagem com a informação de que a vacina contra a Covid-19 causaria a doença da vaca louca e que até relações sexuais poderiam transmiti-la. O texto é falso. Além de não ter ligação com a imunização, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou que os dois casos encontrados em bovinos do Mato Grosso e Minas Gerais foram isolados e não oferecem risco à saúde humana ou animal. A doença só é perigosa para humanos no caso do consumo de carne contaminada.
Com o selo “encaminhada com frequência” do WhatsApp, uma forma de orientar que o usuário pesquise o conteúdo em fonte segura antes de compartilhar, o texto alarmista não apresenta fontes, ou seja, são apenas ideias conspiratórias. “Uma vez recebida a injeção mRNA não tem volta, pois o mRNA se liga ao DNA produzindo PRÍONS (doença da vaca louca). Não é possível “desvacinar”, apenas amenizar os seus efeitos e prolongar a vida”, diz a mensagem.
A mensagem falsa acusa a vacina da Pfizer de causar a doença. No entanto a encefalopatia espongiforme bovina, mais conhecida como doença da vaca louca, foi identificada pela primeira vez na década de 1980, muito antes do surgimento do novo coronavírus e é causada pelo consumo de proteína animal pelos bovinos, não tendo qualquer relação com imunizantes.
A farmacêutica norte-americana disponibiliza em seu site todos os detalhes de como a vacina de RNA funciona, descartando a possibilidade do desenvolvimento de príons (tipo de proteína) que possam causar qualquer doença.
“Utilizando uma fita de RNA mensageiro, a vacina codifica um antígeno específico daquela doença. Quando o RNAm é inserido no organismo, as células usam a informação genética para produzir esse antígeno. O antígeno se espalha pela superfície das células e é reconhecido pelo sistema imunológico, que entende que aquela proteína não faz parte do organismo e passa a produzir anticorpos para combater aquela doença”, explica a Pfizer.
O compartilhamento da mensagem pode ter relação com o surgimento de dois casos de vaca louca no Brasil. No dia 4 de setembro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou nota de esclarecimento com a confirmação de dois casos atípicos de EEB detectados em vacas com idade avançada e em decúbito (deitadas) nos currais. “Não há risco para a saúde humana e animal”, garantiu.
O Ministério explicou ainda que o tipo encontrado é atípico, que ocorre de maneira espontânea e esporádica e não está relacionada à ingestão de alimentos contaminados. “Estes são o quarto e quinto casos de EEB atípica registrados em mais de 23 anos de vigilância para a doença. O Brasil nunca registrou a ocorrência de casos de EEB clássica”, informou. A clássica ocorre em bovinos após a ingestão de ração contaminada, como detalha reportagem do portal UOL sobre como a doença ataca o sistema nervoso. Ou seja, não há registro de humanos infectados e, obviamente, nenhuma relação com a vacina.
Outro fato curioso da mensagem é que ela orienta que não se deve beijar na boca ou fazer sexo com alguém que recebeu a vacina, porque haveria também contágio da doença. Também não existe essa possibilidade. A doença da vaca louca só é transmitida para humanos através do consumo de carne contaminada, um risco que, até o momento, não existe no Brasil.
Uma sugestão perigosa que também está na mensagem é sobre a automedicação. O texto apresenta várias composições para “amenizar os efeitos a longo prazo” das vacinas. “As informações não têm fundamento, não se deve tomar medicamento para prevenir possíveis efeitos”, orienta o secretário geral do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas, Daniel Fortes. Como apontou a OMS, a única coisa que as vacinas costumam causar são efeitos colaterais leves que geralmente desaparecem por conta própria depois de alguns dias e, caso os sintomas persistam, é indicado que se procure orientação médica.
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