É falso que vacinas contra Covid-19 tenham qualquer relação com a Aids

Citado como responsável pela informação, governo britânico esclarece que texto é falso

Por Redação Governo De Alagoas

29/10/2021 -

15:36h

Secom Alagoas

Circulam mensagens nas redes sociais afirmando que as vacinas contra a Covid-19 poderiam causar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids. O conteúdo é falso. O Departamento de Saúde Pública do Reino Unido, diferente do que diz a desinformação, não fez tal associação. A Sociedade Brasileira de Infectologia reforça que o imunizante não causa a infecção.

O conteúdo ganhou visibilidade após ser citado pelo presidente Jair Bolsonaro em uma live. “Os dados disponibilizados pelo governo britânico mostram que os vacinados em dose dupla estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida”, diz parte do texto compartilhado.

A informação é falsa. O Departamento de Saúde do Reino Unido afirmou ao Portal G1 que a ideia não procede e que o boato surgiu de um site que divulga falsas alegações e teorias conspiratórias. As mentiras contidas na mensagem foram contestadas e esclarecidas no site por Letícia Sarturi, mestre em imunologia pela USP e doutora em biociências e fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá. “Não faz nenhum sentido. A vacina não vai gerar nenhum tipo de imunodeficiência”, garante a médica.

Alguns relatórios do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido foram verificados pelo site Aos Fatos e não foram encontrados dados que apontem relação de casos de Aids com a vacina. Os responsáveis pela desinformação manipularam documentos oficiais para pôr em dúvida a eficácia e segurança da vacina.

Com a repercussão do conteúdo falso, várias entidades se pronunciaram. A Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou uma nota para esclarecer que “não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a Covid-19 e o desenvolvimento de síndrome da imunodeficiência adquirida”.

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS Brasil) também reagiu ao boato e reforçou, inclusive, a importância da dose de reforço para pessoas que vivem com HIV. “Aconselhamos a todas as pessoas que vivem com HIV e tenham tomado a 2ª dose em 28 dias ou mais a buscar a dose de reforço. Também asseguramos que não há evidência científica de associação entre receber a imunização completa e ter mais risco para adoecer em decorrência da AIDS. As formas de transmissão do HIV são bem conhecidas e a vacina não é uma forma de transmissão possível”, pontuou em nota no site oficial.

Revista Exame

Na tentativa de embasar a ideia falsa ou justificar a mentira, circula também uma matéria da revista Exame de outubro de 2020. Naquele momento foi noticiado um artigo que levantava a possibilidade de que vacinas contra Covid-19 que utilizam o adenovírus número 5 (Ad5) aumentariam o risco de contrair o vírus da Aids, mas só em caso de exposição ao HIV. No entanto, a reportagem não diz que os imunizantes causariam Aids e nem o próprio artigo apresenta uma conclusão.

A revista Exame, após o uso do link para disseminação de informação falsa, alterou o título da matéria, adicionando a data de publicação do texto. Uma interrogação foi colocada ao fim da manchete para reforçar que não há conclusões no artigo mencionado pela matéria.

Na época da publicação, só a vacina Sputnik V, da Rússia, estava aprovada. Apenas ela e a CanSino, da China, utilizam Ad5. Ou seja, mesmo que fizesse sentido a relação entre a vacina e a Aids, no Brasil não haveria motivo de preocupação, já que nenhum desses imunizantes é usado aqui, como informou a checagem do jornal O Globo.

O vídeo em que o presidente utilizou a desinformação foi retirado do Facebook e Instagram no domingo (24). A empresa, responsável pelas duas redes sociais, disse que as políticas da plataforma “não permitem alegações de que as vacinas de Covid-19 matam ou podem causar danos graves às pessoas”. Nessa segunda-feira (25), o Youtube também removeu o vídeo do presidente.

O Supremo Tribunal Federal (STF) também se pronunciou. Nessa segunda-feira (25), o ministro Luís Roberto Barroso enviou para a Procuradoria-Geral da República (PGR) uma notícia-crime pedindo uma manifestação sobre a atitude de Jair Bolsonaro.

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