Pediatra do HGE alerta sobre cuidados para prevenir casos de meningococcemia

Doença causada pela bactéria neisseria meningitidis é mais frequente entre crianças com até 5 anos

Por Redação Agência Alagoas

02/08/2023 -

14:33h

Carla Cleto e Thallyson Alves / Ascom Sesau

A pequena Maria Cecília de Oliveira Barbosa, de 1 ano e 7 meses, estava muito bem de saúde até que no último dia 31 de maio começou a vomitar. Era um quadro de meningococcemia, infecção causada pela bactéria neisseria meningitidis, conhecida como meningococo, que pode causar desde um quadro clínico mais brando até um quadro grave e fulminante.

 

Mas o que fazer para evitar que seus filhos sejam afetados por este problema de saúde? O pediatra Roney Damacena, que atua no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, onde a paciente foi tratada, orienta sobre os cuidados que papais e mamães devem seguir para preservar o bem estar de seus filhos.

 

Isso porque, segundo ele, a meningite meningocócica está entre as doenças imunopreveníveis mais temidas, sendo mais grave quando atinge a corrente sanguínea, provocando meningococcemia, que é uma infecção generalizada.

 

De acordo com Roney Damacena, aproximadamente 10% da população apresenta colonização bacteriana na nasofaringe, ou seja, são portadoras assintomáticas. “Raramente o meningococo consegue invadir a corrente sanguínea provocando a doença meningocócica, que pode se apresentar de diferentes formas. Em 70% dos casos, a infecção meningocócica manifesta-se como meningite, já os casos de meningococcemia são mais raros, mas, temos percebido um aumento dos casos nos hospitais”, salienta.

No caso de Maria Cecília, além de vômito, ela apresentou febre e surgiram manchas no corpo, conforme relatou a mãe, Beatriz Dayane Barbosa, de 21 anos, que é manicure. Ela afirma que medicou a criança na tentativa de acabar com a febre, mas, após uma noite em claro, ela levou a filha para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde o clínico geral detectou manchas na perna e na barriga e, após medicá-la, encaminhou-a ao HGE, onde já chegou entubada, devido a gravidade do problema.

 

“No HGE ela foi direto para a UTI. Fizeram acesso central em minha pequena, que ficou 24 horas isolada. A meningite foi confirmada já com o quadro de meningococcemia. Senti muito medo de perdê-la”, emocionou-se a mãe, ao fazer uma confissão. “Aas vacinas de minha filha estavam atrasadas, porque sustento meus três filhos sozinha e tenho que trabalhar todo dia”.

 

Felizmente, graças à assistência ágil e eficiente da equipe multidisciplinar, Maria Cecília foi desentubada no dia 12 de junho e, no dia 14, foi para uma enfermaria, mas apresentava muitos pontos de necrose e edema nos membros inferiores, o que é característico da doença. Após a remoção do tecido necrosado, finalmente recebeu alta médica no dia 8 de julho,, mas, uma vez por semana, retorna à unidade para avaliação das lesões.

 

Roney Damacena explica que a meningite meningocócica é uma infecção exclusiva das meninges e provoca alterações neurológicas e sistêmicas. Já a meningococcemia, que é causada pelo mesmo agente, é definida como uma infecção da corrente sanguínea, com manifestações sistêmicas que podem ser potencialmente graves, de rápida evolução e potencialmente fatais. “Após diagnóstico e uso de antibioticoterapia correta, a taxa de letalidade para a infecção por meningococo em geral é de 10%. Dos pacientes que sobrevivem, entre 10 e 20% apresentam sequelas graves. Já a meningococcemia pode ter uma letalidade de até 50%”, enfatiza.

 

Transmissão e Tratamento

 

As secreções respiratórias e a saliva são o meio de transmissão do meningococo, entretanto, é necessário o contato próximo ou demorado com o portador. “É nos ambientes com maior aglomeração de pessoas que o risco de transmissão aumenta, e esses ambientes contribuem para desencadear surtos”, especifica o pediatra do HGE, ao acrescentar que o tratamento é feito com antibióticos e outras medidas de preservação do equilíbrio do organismo, sempre em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) isolada.

 

Segundo ele, a evolução da doença é muito rápida, com o surgimento abrupto de sintomas como febre alta e repentina, intensa dor de cabeça, rigidez do pescoço, vômitos e, em alguns casos, sensibilidade à luz, conhecida como fotofobia, e confusão mental. “Nos vasos sanguíneos, a disseminação pode produzir manchas vermelhas na pele, que são as petéquias e equimoses, e até necroses que podem levar à amputação do membro acometido. Para se ter uma ideia da gravidade, entre os sobreviventes, cerca de 10% a 20% ficam com sequelas como surdez, cegueira, problemas neurológicos e membros amputados”, alerta Roney Damacena.

 

Vacinas Salvam

 

O especialista diz que pessoas não vacinadas de qualquer idade são vulneráveis, mas no Brasil a doença é mais frequente entre crianças com até 5 anos. “Cinco tipos ou sorogrupos de meningococo causam a maioria dos casos de meningite. São eles: A, B, C, W e Y. No Brasil, o mais frequente é o sorogrupo C, razão pela qual a vacina foi incluída em 2010 no calendário infantil do PNI [Programa Nacional de Imunizações”, enfatiza o pediatra do HGE.

 

A vacinação é a principal forma de prevenção da doença meningocócica, conforme alerta Roney Damacena. “As vacinas são seguras e eficazes. Em média, mais de 95% dos vacinados ficam protegidos, entretanto, nos casos das vacinas conjugadas, como a meningocócica C e ACWY, e para quem já teve a doença, a proteção não é para toda a vida. Ao longo do tempo a quantidade de anticorpos cai e o indivíduo deixa de estar protegido. Por isso, a importância das doses de reforço, conforme as recomendações da SBIm [Sociedade Brasileira de Imunizações] e SBP [Sociedade Brasileira de Pediatria]”, lembra o especialista.

 

A SBIm e a SBP recomendam, sempre que possível, o uso da vacina meningocócica conjugada ACWY. O esquema deve ser iniciado na rotina aos 3 meses de idade, com duas doses, com intervalo de dois meses, e reforços entre os 12 e 15 meses; aos 5 anos e aos 11 anos de idade. Quando há atraso no início do esquema, o número de doses e o intervalo entre elas podem variar, dependendo da vacina utilizada.

 

Além disso, Roney Damacena ressalta a importância da aplicação da vacina meningocócica B, igualmente recomendada para crianças a partir de 3 meses e para adolescentes. “O esquema varia de acordo com a idade de início da vacinação.  Ela pode ser aplicada no mesmo momento em que a vacina meningocócica ACWY. Crianças e adolescentes de qualquer idade que não tenham sido vacinados anteriormente também podem se proteger com as vacinas ACWY e B. Em adultos, a administração deve ser considerada somente em situações de risco epidemiológico, como surtos ou viagens para áreas onde a enfermidade é endêmica”, observa o especialista.

 

Convocação aos Pais

 

O secretário de Estado da Saúde, médico Gustavo Pontes de Miranda, conclama os pais para que atualizem a Caderneta de Vacinação de seus filhos. “Não há motivo para deixar de proteger nossas crianças, porque há vacina, cientificamente testada e com eficácia comprovada contra a meningococcemia, uma doença grave, que pode levar à morte e deixar sequelas, como a amputação de membros”, enfatiza o gestor da saúde estadual, ao destacar que os imunizantes estão disponíveis nos postos de vacinação municipais.