Pesquisa financiada pela Fapeal desvenda a evolução genética do vírus chikungunya em Alagoas

Com apoio do edital Jovens Doutores, estudo realizado na Ufal identifica mutações associadas à maior gravidade do vírus e fortalece a vigilância genômica no estado

Por Redação Agência Alagoas

12/05/2025 -

11:03h

Tárcila Cabral/Ascom Fapeal e Acervo de Pesquisador

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) tem sido protagonista na transformação da ciência local por meio de programas que conectam conhecimento, inovação e saúde pública. Um exemplo dessa atuação estratégica é o projeto intitulado “Epidemiologia molecular do vírus chikungunya em regiões endêmicas do estado de Alagoas”, finalizado em fevereiro de 2025.

Desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o estudo foi coordenado pelo professor Abelardo Silva e contou com o trabalho de duas bolsistas: Thais Fraga e Mykaella Araújo.

Financiado por meio do Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores no Brasil — uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na qual a Fapeal é parceira — o projeto analisou a estrutura genética de amostras do vírus chikungunya circulantes em Alagoas, colhidas entre os anos de 2016 a 2024.

A investigação envolveu o sequenciamento de 60 genomas completos do vírus, a partir de amostras humanas e de vetores (mosquitos), o que permitiu identificar mutações que indicam maior capacidade de transmissão e severidade da infecção nos últimos surtos registrados no estado.

“A genômica permite, hoje, rastrear a história evolutiva do vírus. Assim como na medicina de precisão, conseguimos correlacionar mutações genéticas com características mais agressivas do patógeno. Isso pode subsidiar políticas públicas e, principalmente, a eficácia de vacinas e tratamentos”, explicou o professor Abelardo Silva.

Contribuição para a saúde pública

O estudo revelou alterações genéticas importantes nas linhagens do vírus chikungunya identificadas em diferentes ondas epidêmicas no estado. Essas mutações ajudam a explicar relatos recorrentes de pacientes alagoanos sobre sintomas persistentes, sugerindo que a doença tem se manifestado de forma mais crônica na região.

“Um dos desdobramentos do nosso trabalho, a dissertação de Leonardo Lima, também identificou mosquitos infectados em regiões turísticas de Maceió, como Ponta Verde e Jatiúca. Esse dado é fundamental para orientar o controle vetorial pelas autoridades municipais”, relatou Thais Fraga.

A descoberta mostra que construções ativas também podem abrigar focos do vetor, contribuindo para a proliferação da doença, um dado que pode orientar diretamente políticas de vigilância sanitária.

Além disso, o estudo impulsionou a criação de novas metodologias para identificação de linhagens virais sem a necessidade do sequenciamento genômico completo. Desenvolvidas por estudantes de iniciação científica e pós-graduação, essas ferramentas visam diagnósticos mais rápidos e acessíveis, fundamentais para a realidade de muitos laboratórios no estado.

Foi neste âmbito inclusive que, parcerias puderam ser estabelecidas ao longo da pesquisa. O grupo colaborou com o Instituto Aggeu Malhães (IAM), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Laboratório Central de Saúde Pública de Alagoas (LACEN/AL), o que viabilizou o uso das amostras sequenciadas para o desenvolvimento de testes diagnósticos mais modernos, como o método LAMP, atualmente em padronização nacional.

Jovens doutoras e os impactos gerados

Aprofundando-se neste cenário, a trajetória das jovens doutoras também se mostrou fundamental para os resultados obtidos. Thais Fraga, que adquiriu o título na Universidade Estadual Paulista (Unesp), atuou como bolsista da Fapeal entre janeiro e setembro de 2023. Após ser aprovada em concursos públicos, ela cedeu a bolsa, mas permaneceu contribuindo ativamente com o projeto. Sua participação garantiu igualmente a orientação de novos estudantes e a continuidade das ações planejadas.

A partir de outubro de 2023, Mykaella Araújo assumiu a bolsa e conduziu os trabalhos até outubro de 2024. Sua atuação foi marcada pela introdução de metodologias inovadoras de sequenciamento e pela ampliação de parcerias institucionais. “O apoio da Fapeal viabilizou uma infraestrutura inédita para o nosso grupo de pesquisa. Adquirimos tecnologia de alta performance e consolidamos parcerias institucionais estratégicas. Mais do que impulsionar minha carreira, essa bolsa impactou positivamente a vigilância em saúde pública em Alagoas”, afirmou a pesquisadora.

O projeto também resultou na formação de novos talentos. O mestrando Leonardo Lima, orientado por Thais Fraga e coorientado por Abelardo Silva, foi premiado como autor do melhor trabalho na área de Virologia de Invertebrados durante o 35º Congresso Brasileiro de Virologia, realizado em Foz do Iguaçu, em outubro de 2024.

Perspectivas futuras

Atualmente, os impactos do projeto vão muito além dos resultados científicos. O fortalecimento da infraestrutura laboratorial, a formação de novos talentos e a conexão direta com as demandas do LACEN/AL consolidaram um modelo de pesquisa aplicada com retorno concreto para a sociedade.

“A partir dos editais da Fapeal, conseguimos estruturar um laboratório mais robusto, com equipamentos como o ultrafreezer, por exemplo, que tem sido essencial para armazenar amostras com segurança. Isso impacta toda a rede de pesquisas da Ufal e permite novos projetos”, explicou o coordenador do trabalho.

Abelardo Silva também adiantou que o grupo está desenvolvendo novas propostas para dar continuidade às investigações sobre arboviroses em circulação no estado. “A ideia é atender diretamente às demandas do sistema de saúde. A parceria com o LACEN/AL foi fortalecida por esse projeto, e isso nos permite responder de forma rápida a novos surtos virais”, afirmou ele.

Thais Fraga e Mykaella Araújo continuam atuando na docência e na pesquisa em instituições públicas, contribuindo para a formação de novos cientistas e ampliando a presença feminina na ciência alagoana.

 E o projeto, que teve início com o sequenciamento de genomas, hoje reverbera em salas de aula, laboratórios equipados, colaborações consolidadas e avanços na saúde pública do estado.