Relaxamento de medidas pode ter provocado aumento de mortes por covid-19 no Chile

Site tenta responsabilizar a vacinação pelo aumento de óbitos, já que país tem imunização em estágio avançado

Por Redação Agência Alagoas

01/06/2021 -

20:10h

Agência Alagoas

Circula nas redes sociais a informação de que o número de mortes por Covid-19 aumentou no Chile após o início da vacinação. O aumento nos números é verdadeiro, mas a correlação com a vacina é falsa. Especialistas apontam que um dos motivos para o novo aumento é o relaxamento das medidas de distanciamento social após o verão.

O conteúdo de um site, que publica textos alarmistas e sem fontes científicas, tenta convencer de que a imunização provocou o aumento do número de mortes por covid no país. “Cinco meses após o início de sua vacinação, o Chile apresenta uma média semanal de 98 óbitos por Covid-19. Ou seja, cinco meses após o início de sua campanha nacional de vacinação, que deveria estar salvando vidas, o Chile apresenta uma média diária de mortos por Covid-19 mais de duas vezes superior àquela registrada antes do uso das vacinas”, diz o texto.

De fato, desde dezembro – quando iniciou o processo de vacinação – o país registrou aumento no número de óbitos. Na última semana de novembro, o Chile contabilizou uma média diária de 34 mortes, enquanto na última semana de maio foram 93 óbitos por dia.

O aumento relativo dos casos e óbitos não está ligado ao avanço no processo de vacinação, que até agora alcançou 52% da população. Para especialistas ouvidos pela BBC as causas do novo aumento são diversas. O relaxamento drástico de medidas de distanciamento foi apontado como uma delas. O país determinou o retorno às aulas presenciais, liberou viagens de turismo e reabriu centros comerciais e cassinos.

“O governo autorizou licenças especiais de férias e isso fez com que entre 4 e 5 milhões de pessoas se mobilizassem para diferentes áreas que hoje vivem crises muito extremas, com hospitais com leitos lotados, com percentuais muito elevados de testes positivos, em alguns casos superiores à primeira onda”, argumenta Claudia Cortés, da Universidade do Chile e vice-presidente da Sociedade Chilena de Infectologia.

Cortés observa que desde o início da vacinação a população relaxou nos cuidados para a prevenção. “Muitas pessoas pensaram que, como as vacinas já haviam chegado, o problema havia acabado e as medidas de autocuidado foram bastante relaxadas”, acrescenta.

O Ministério da Saúde do Chile reconheceu que as férias de verão desempenharam um papel fundamental na atual situação. “O aumento de casos tem a ver principalmente com o relaxamento das regras de autocuidado durante o verão, o que também aconteceu em outros países do mundo”, explicou.

Juan Carlos Said, mestre em Saúde Pública pelo Imperial College de Londres, destaca que o efeito da vacinação não é a curto prazo. “As vacinas não funcionam imediatamente. Muitas vacinas, como a Sinovac, que é a maioria por aqui, exigem a aplicação de duas doses em intervalos de três semanas e a imunidade máxima começa a ser alcançada a partir da segunda semana após a segunda dose. Para diminuir o número de internações e óbitos é preciso que 80% da população esteja vacinada e ainda estamos muito longe disso”, afirmou à reportagem.

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