A Secretaria de Estado da Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL) coordena, nesta terça-feira (1), uma megaoperação com objetivo de prender integrantes de duas organizações criminosas que atuavam no tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e outros crimes. Os mandados judiciais estão sendo cumpridos em Alagoas e em outros 16 estados do país de forma simultânea.
A operação foi denominada Hades e é fruto de um trabalho investigativo da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), da Polícia Civil de Alagoas, em parceria com a Secretaria de Estado da Segurança Pública, que apura a atuação criminosa desses grupos no tráfico de drogas em larga escala em Alagoas e outros estados do país.
O trabalho investigativo foi iniciado em março de 2021 pela Dracco e pela SSP de Alagoas para apurar a movimentação criminosa de quatro pessoas – que são dois casais, em atividades ilícitas.
Os mandados foram expedidos pela 17ª Vara Criminal da Capital de Alagoas, após parecer favorável do Gaeco, do Ministério Público de Alagoas, com base nas provas técnicas apresentadas pela Dracco. Serão cumpridos 79 mandados de prisão e 228 de busca e apreensão nos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.
Mandados cumpridos por estado
Alagoas – 27 mandados, sendo sete de prisão e 20 de busca e apreensão;
Amazonas – 29 mandados, sendo três de prisão e 26 de busca e apreensão;
Bahia – dois mandados de busca e apreensão;
Ceará – 11 mandados, sendo três de prisão e oito de busca e apreensão;
Goiás – 10 mandados de busca e apreensão;
Mato Grosso – 13 mandados, sendo três de prisão e 10 de busca e apreensão;
Mato Grosso do Sul – 61 mandados, sendo 19 de prisão e 42 de busca e apreensão;
Minas Gerais – cinco mandados, sendo um de prisão e quatro de busca e apreensão;
Pará – 40 mandados, sendo 14 de prisão e 26 de busca e apreensão;
Paraná – um mandado de prisão;
Pernambuco – três mandados, sendo dois de prisão e um de busca e apreensão;
Piauí – dois mandados, sendo um de prisão e um de busca e apreensão;
Rio de Janeiro – 11 mandados, sendo quatro de prisão e sete de busca e apreensão;
Rio Grande do Norte – um mandado de busca e apreensão;
Roraima – 4 mandados, sendo um de prisão e dois de busca e apreensão;
Santa Catarina – quatro mandados, sendo um de prisão e três de busca e apreensão;
São Paulo – 84 mandados, sendo 19 de prisão e 65 de busca e apreensão.
Como as organizações atuavam
As investigações identificaram dois casais, um deles alagoano e outro paraense, que eram responsáveis pelo tráfico de drogas em larga escala no estado de Alagoas. A partir disso, o trabalho conseguiu identificar ramificações nos 17 estados alvos da operação.
À medida que houve progresso nas investigações, foi possível identificar também os criminosos que atuavam na origem do tráfico como fornecedores e as pessoas que como atuavam como fornecedores de drogas para os líderes das duas organizações criminosas investigadas.
Segundo a investigação, os dois casais fazem parte da cúpula de duas grandes organizações criminosas que atuam no Rio de Janeiro e no estado do Pará.
A organização criminosa que era liderada por um alagoano atuava principalmente em Maceió, no bairro da Levada e adjacências. Porém, ele também realizava a distribuição de drogas para outros municípios de Alagoas onde há predominância da facção criminosa que o indivíduo integra.
Também ficou constatado ao longo da investigação que os fornecedores dessa droga que abastecia o mercado alagoano eram do estado de São Paulo. Eles recebiam as drogas do Mato Grosso do Sul, estado que faz fronteira com Paraguai e Bolívia, que são grandes produtores de drogas.
Já a segunda organização criminosa alvo da operação de hoje, era liderada por um homem natural do Pará, mas que morou muito tempo em Alagoas. Por conta desse laço pessoal com o estado, ele estabeleceu o comando do tráfico de drogas em bairros da área nobre da cidade, como Ponta Verde, Jatiúca, Pajuçara, Mangabeiras e Jacarecica. Esse indivíduo também estava à frente de atividades ilícitas no Pará.
A droga que era vendida por este grupo criminoso tinha como origem fornecedores do estado do Amazonas, que faz fronteira com a Colômbia e o Peru, primeiro e segundo maiores produtores de cocaína do mundo, respectivamente.
Vida de luxo oriunda do tráfico de drogas
Apesar das duas organizações criminosas atuarem de forma independente, ambas tinham pontos em comum, como membros que pertenciam às mesmas facções criminosas de âmbito nacional e um esquema muito sofisticado de lavagem dinheiro.
A investigação conseguiu detectar que os dois grupos utilizavam esquemas de lavagem de capitais, com a utilização de empresas de vários segmentos, como peixarias, de aluguel de veículos, de manutenção de automotores, depósitos de bebidas, de transportes de cargas, dentre outras. Além disso, ficou comprovado o uso frequente de contas bancárias de pessoas próximas e outras identificadas como laranjas, a fim de movimentar grandes quantias de dinheiro de forma ilegal.
Nesse contexto, foram verificadas movimentações financeiras de mais de R$300 milhões de reais em contas bancárias, que foram analisadas ao longo da investigação. Muitos dos membros das duas organizações criminosas investigadas ostentavam um elevado padrão de vida, com viagens, também utilizavam veículos e outros bens de luxo, além de possuírem residências e apartamentos em condomínios de alto padrão.
É importante destacar que boa parte dos alvos da operação possui antecedentes criminais, inclusive, por crimes da mesma natureza dos que são objeto nesta operação. Muitos deles possuem processos em aberto na Justiça Federal. Alguns dos investigados também tem mandados de prisão em aberto pela prática de outros delitos.
Significado do nome da operação
A operação foi denominada de Hades em referência ao deus da mitologia grega, também chamado de deus da riqueza. Além de seu grande poder, o ser mitológico possuía todos os metais preciosos do planeta.
Na mitologia grega, Hades foi descrito como um deus impiedoso, intimidativo e insensível às preces e sacrifícios, pois o seu objetivo era punir as almas pelo que as pessoas fizeram em vida. Esses atributos coincidem com características dos líderes das organizações criminosas desarticuladas. Mesmo com todo o poder alcançado, Hades também era tido como o deus dos mortos, dono do mundo inferior, onde só habitavam as almas de pessoas ruins, o que também acaba acontecendo com as pessoas que entram no mundo do crime.
Efetivo empregado
Para o cumprimento dos mandados judiciais, foram empregados policiais civis e militares de todos os estados acima mencionados, com um efetivo global de cerca de 1.500 agentes de Segurança Pública.
O secretário da Segurança Pública de Alagoas, Flávio Saraiva, destacou a grandiosidade e importância da operação em um contexto nacional, já que combate organizações criminosas e crimes correlatos, como é o caso dos crimes financeiros constatados nesta operação.
Ele parabenizou ainda o apoio das Polícias Civis e Militares dos estados mencionados e da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência (Diopi), da Secretaria Nacional de Segurança Pública, integrante do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senasp/MJSP). Este suporte foi proporcionado por meio do Projeto I.M.P.U.L.S.E., que faz parte do Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (ENFOC/MJSP), um programa fundamental para fortalecer as ações de combate ao crime no país. O projeto I.M.P.U.L.S.E. têm como objetivo fortalecer as ações de combate e desmantelamento de organizações criminosas, promovendo a integração entre as Polícias em âmbito nacional.
“Hoje o objetivo da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas é descapitalizar as organizações criminosas e esse é o foco desta nossa operação histórica. Aproveito para parabenizar a todas as forças policiais alagoanas e todas as unidades policiais dos estados envolvidos pela capacidade técnica empregada nesta grande ação”, afirmou.